Estudo da Fiocruz avaliará consequências da infecção pelo vírus zika na gravidez

Passados oito anos do início da emergência em saúde pública pelo vírus zika, um grupo de pesquisadores que investiga a situação desde o início da epidemia forma agora o LIFE Zika – Estudo dos Impactos a Longo Prazo para Famílias Afetadas pela Epidemia de Zika, lançado na quarta-feira (20/03), no Recife (PE). 

O objetivo é averiguar consequências a longo prazo em crianças expostas na gravidez ao zika, inclusive meninos e meninas em idade escolar que não desenvolveram a microcefalia, mas tiveram essa exposição ao vírus ainda na barriga da mãe. Esse estudo é um desdobramento dos trabalhos iniciados pelo Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (Merg), liderado pela Fiocruz Pernambuco e outras instituições pernambucanas, brasileiras e mundiais.

“A origem desse grupo de estudo epidemiológico da microcefalia deu início a uma série de pesquisas, uma delas o estudo de caso controle, que, finalmente, elucidou e esclareceu a síndrome congênita do zika como causadora da microcefalia. Essa equipe continua desenvolvendo estudos, que vão dar conta do acompanhamento das crianças, de mães, e vem desembocar nesse novo financiamento. O objetivo é, por mais sete anos, dar respostas do que vem acontecendo com essas crianças passados oito anos da epidemia. Nossa esperança é que a gente consiga dar retorno não só ao mundo científico, mas ao mundo social”, afirmou o pesquisador da Fiocruz Pernambuco Wayner Vieira de Souza.

O grupo será financiado pelo Wellcome Trust, instituição filantrópica de apoio à pesquisa com sede em Londres, no Reino Unido. Fazem parte da força-tarefa a London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) e instituições parceiras no Brasil, como a Fiocruz, Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entre outras. Ao todo, serão repassados £ 3,6 milhões para um período de sete anos de análises.   

“Esse projeto nos dá a oportunidade de acompanhar as crianças por mais sete anos. Temos diferentes grupos, como o de crianças que têm microcefalia, para ainda se observar como se dá o desenvolvimento, as complicações que possam apresentar e alguns desfechos, como número de hospitalizações, as necessidades de assistência específica em saúde. Outra frente é a dos filhos de mães que tiveram zika na gravidez, mas que nasceram sem microcefalia. Nos interessa saber se eles têm alguma possibilidade maior do que na população geral de apresentar algum problema no aprendizado escolar, no desenvolvimento das questões afetivas, desenvolvimento motor. Serão vários testes que serão aplicados para verificar todas essas questões”, disse o pesquisador do Estudo LIFE Zika pela Universidade de Pernambuco (UPE) Demócrito Miranda.  

O impacto social dos casos da síndrome congênita do zika também fez parte dos estudos iniciais e vai ser mantido nessa nova etapa. “Escutar como essas famílias estavam vivendo a experiência de um agravo inusitado, de gravidade, as reconfigurações familiares que foram necessárias, os desafios que foram postos, sobretudo, para as mulheres, estavam e continuam nos nossos objetivos. Isso gerou informações que permitiram a essas famílias a pressionarem o poder público por direitos, por transporte adequado, por serviços de saúde de mais fácil acesso. Isso que a gente acha que é importante no fazer ciência, pensar para quem a gente está fazendo”, contou a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Tereza Lyra. 

O LIFE Zika usará métodos de ciências sociais para compreender os impactos sociais e de saúde mais amplos para os membros da família de crianças com a síndrome congênita. Os pesquisadores esperam que essas evidências sirvam de base para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam a proteção social de crianças com a síndrome congênita do zika e suas famílias. Com vistas à preparação para futuras epidemias, o estudo LIFE Zika também tem como objetivo melhorar a compreensão de como os pesquisadores podem envolver de forma mais eficaz as comunidades afetadas nas respostas científicas às emergências de saúde pública.

Em outubro de 2015, profissionais pernambucanos notaram um aumento incomum de casos de crianças nascendo com microcefalia. Após notificação à Secretaria de Saúde de Pernambuco, diversos órgãos começaram a investigar a situação, que acabou sendo visualizada também em outras localidades do país. Depois de análises, em 2016 foi atestado que aqueles casos estavam sendo provocados pelo vírus zika, recém-introduzido em território nacional.

Fonte: Agência Fiocruz

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Redação

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